A primeira escola a se apresentar na última noite de desfiles na Sapucaí foi o Paraíso do Tuiuti. A escola montou um verdadeiro batalhão em sua sina para ser levada a sério no grupo especial: Wander Pires, mestre Marcão e Rosa Magalhães – que dividiu a caneta com o bom João Vitor Araújo – são um tripé dos mais competentes. O time não fez feio e colocou na avenida o melhor desfile da escola desde 2018. Com uma forte defesa de quase todos os quesitos a agremiação deveria brigar forte para voltar no sábado das campeãs.

Por fim, fica mais uma vez o alerta: o Tuiuti precisa para ontem de um trabalho mais competente em harmonia. O canto da comunidade de São Cristóvão destoa muito do restante do grupo.

O tão aguardado desfile portelense sobre seu centenário veio na sequência. Que felicidade estar vivo para ver uma efeméride dessa envergadura! A Portela é uma das maiores instituições culturais do planeta e deveria ser sempre tratada como tal. A emoção de ver os nomes dos baluartes que construíram essa agremiação voando no céu é inesquecível. Máximo respeito pela águia e pelos ícones da agremiação.

Isto posto: o desfile foi um desastre de proporções bíblicas. Se o julgamento for justo Portela e Mocidade disputam o rebaixamento pau a pau.

A Vila Isabel foi a terceira escola a se apresentar na madrugada de segunda para terça, e o que se viu foi um desfile absolutamente irregular. Paulo Barros renasceu das cinzas e apresentou seu melhor conjunto desde, pelo menos, 2017, e o que fez o povo da terra de Noel nos quesitos musicais não está escrito. A comunidade fluiu e cantou como se nada mais existisse no mundo além de Vila Isabel. Em contrapartida, o samba da agremiação é um baita boi com abóbora, a comissão de frente carregava um trambolho gigantesco que não se justificava e o desenvolvimento de enredo simplesmente não existiu.

O pior de tudo, porém, foi a passagem de Marcinho e Cris, primeiro casal da escola. É uma violência a tudo o que significa escola de samba o que fizeram com o par. Como se não bastasse a interferência, os dois ainda dançaram duros, nervosos, acachapados num espaço insuficiente para o desenvolvimento do bailado.

Poderia dizer que é inacreditável isso ter passado pela diretoria, mas nada me surpreende mais em escola de samba.

Eu sei que tem entendedor de carnaval empolgado, mas a real é que a Vila Isabel deveria brigar para voltar sábado. E só.

Quarta escola a desfilar, a Imperatriz fez tudo o que se esperava dela e mais um pouco. Para início de conversa: Leandro Vieira é um gênio da raça. O que esse homem fez em termos de desenvolvimento de enredo é das coisas mais brilhantes que já vi na vida. Que soluções, que tradução visual, que referências! Aula magna de belas artes. Aliada à plástica, a parte musical do desfile leopoldinense foi outro destaque. O “xaxado-enredo”, palavras de Luiz Antônio Simas, rendeu uma barbaridade; sanfona e cordas deram um show. Nem a evolução, grande problema das escolas em 2023, foi um problema; a GRESIL fluiu sem percalços. A única ressalva talvez seja a comissão de frente, que se apresentou colada na grade para dar espaço a mais um tripé gigantesco.

Trocando em miúdos: a Imperatriz foi a melhor escola do grupo na opinião deste que vos escreve.

Outra grande favorita, a Beija-Flor foi a penúltima escola a se apresentar no grupo. O desfile nilopolitano começou confuso: o topo de um dos chassis do abre-alas pegou fogo bem na esquina da Sapucaí; os bombeiros tiveram que agir rápido para apagar o incêndio e o carvalhão foi acionado às pressas para descer um destaque que estava bem próximo às chamas.

Em tempo: o desfile não deveria ter começado tão rápido; o intervalo para averiguar as condições de segurança da alegoria tinha que ser maior. Bom que tudo deu certo no fim.

A ocorrência prejudicou o conjunto da primeira alegoria, que passou um pouco avariada na área do destaque. Também destaco negativamente a passagem de Selminha Sorriso e Claudinho, um momento sempre muito aguardado. O casal evoluiu contido, sem a leveza e fluidez de outrora. Talvez tenham preferido não arriscar dadas as condições do chão da Sapucaí, muito escorregadio por conta do descaso dos camarotes.

No mais, grande apresentação da comunidade nilopolitana. Canto, evolução, bateria; um show. André Rodrigues e Mauro Cordeiro, principais responsáveis pelo enredo da Deusa da Passarela, também merecem todas as loas. A desconstrução dos signos pátrios e da imagética colonizadora que acabou ficando como retrato da Independência é coisa de quem entende direitinho o papel de uma ESCOLA de samba.

Encerrando a segunda noite de desfiles do grupo especial e o carnaval da Marquês de Sapucaí, a Viradouro levou para o maior espetáculo da Terra a história de Rosa Egipcíaca, santa popular cuja história foi resgatada pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. A escola, injustamente menos comentada no pré-carnaval, passou pela avenida como um rolo-compressor. Uma harmonia soberba, o melhor casal de mestre-sala e porta-bandeira do grupo – Julinho e Rute, sou fã! -, plástica invejável; enfim, um desbunde. De negativo, talvez, o samba, que não é dos melhores da safra, e uma evolução prejudicada pela apresentação muito longa da comissão de frente.

Palpites:

Imperatriz, repito, é minha favorita ao caneco. Viradouro é a principal candidata a colocar água no chopp da comunidade de Ramos. Beija-Flor e Mangueira correm por fora na briga.

O Império Serrano tem reais chances de voltar para o acesso, não pelo seu desfile, mas pelo olhar viciado dos julgadores. No mundo real a disputa pelo descenso é uma hecatombe: Mocidade e Portela.

By Thales Basilio

Thales Basílio é editor e redator, formado em Relações Internacionais e Estudos Estratégicos pela UFF com pesquisa em carnaval carioca. Desde 2022 integra o time da Bicuda.

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