(foto: reprodução/X)

Após a passagem das escolas de samba do grupo de acesso, foi a vez do grupo de elite do carnaval carioca se apresentar.

Retornando – enfim! – ao Grupo Especial após o trágico desfile sobre o iogurte, a Porto da Pedra fez uma apresentação irregular. Com um investimento jamais visto para uma escola que retorna à elite, o tigre fez quase tudo certo pra permanecer: bons quesitos musicais, uma plástica de altíssimo nível e um enredo brilhantemente desenvolvido. Problemas em alegoria com o desfile já em andamento e um enorme buraco que pegou meia avenida, porém, podem aguar o chopp gonçalense – é a tendência. Além disso, a bateria do mestre Pablo estava engasgando no início do desfile; notava-se problemas principalmente em tamborim. Não sei se o júri vai despontuar ou se só vai pegar eventuais falhas diante dos módulos.

Era um desfilaço da GRESUPP. Uma pena.

A Beija-Flor passou na sequência falando de Rás Gonguila e o carnaval de Maceió. A plástica da escola era invejável e a bateria dos mestres Rodney e Plínio, cada vez mais solta, viveu noite de gala. Por outro lado, o samba não é dos melhores, o desfile foi meio morno e o desenvolvimento de enredo foi, no melhor dos casos, confuso.

Briga pelo sábado.

Terceira escola a se apresentar, o Salgueiro trouxe a luta e o cotidiano do povo Yanomami pra Sapucaí. O samba da vermelho e branco é um dos melhores do carnaval, Sidclei e Marcela são um acontecimento e a comissão de frente da agremiação foi um dos pontos altos da noite. A plástica, porém, esteve abaixo, principalmente quando olhamos para o acabamento das alegorias. A evolução, como sempre, também passou longe do ideal. E sorte do Salgueiro que não existe mais quesito conjunto, porque samba e enredo não conversaram muito – embora entenda a opção por suavizar a abordagem.

Entendo que se voltar é lucro.

Na sequência, foi a vez da Grande Rio se apresentar. Com um chão forte, uma bateria irretocável e fortíssimos quesitos plásticos, a escola é a primeira que disputa o pódio. Destaque pra ótima comissão de frente caxiense, que fez uso como nunca da nova iluminação da Sapucaí, e pro primeiro casal, Niel Werneck e Taciana Couto.

No mais, acredito que isso não impacte o resultado final, mas é importante fazer uma ressalva: o desenvolvimento do enredo foi extremamente hermético, e os carnavalescos estão começando a errar a mão na quantidade de elementos que compõem seus carros alegóricos. A linha entre inovação e confusão é muito tênue, e no desfile de 2024 ela foi cruzada algumas vezes.

Quinta escola a se apresentar, a Unidos da Tijuca fez a apresentação mais fraca da noite. O enredo sobre Portugal, de timing terrível, teve um desenvolvimento muito contestável – mesmo com boa plástica. Além disso, ele resultou no pior samba do ano, que acabou afundando a harmonia tijucana do meio para o fim da apresentação, mesmo com todo o esforço do mestre Casagrande e do Ito. De negativo, também vale destacar uma certa falta de entrosamento entre o primeiro casal da escola, Matheus André e Lucinha Nobre.

A Porto da Pedra apresentou problemas mais evidentes; no conjunto, porém, acredito que o tigre ainda tem mais quesito que o pavão.

Fechando a primeira noite de Especial, a Imperatriz fez um desfile irretocável; apresentação fortíssima de rigorosamente todos os segmentos. Na parte musical, destaque pra harmonia da escola e pras cordas da bateria leopoldinense – uma das principais características do mestre Lolo. Na parte plástica, destaque pra cigana suspensa pela lua e pro carro do Netuno. Também gostei muito da alegoria que aludia ao jogo do bicho – ela ter passado apagada, principalmente pelo fato de já estar amanhecendo, não comprometeu em nada o conjunto.

Grande Rio e Imperatriz garantiram seu lugar no sábado. Das duas, é a escola de Ramos que disputa o título com as coirmãs que desfilarão logo mais.

Por fim, fica o registro da melhor notícia da noite: parece que as comissões de frente estão entrando no eixo. Depois de um ano lamentável pro quesito, em que praticamente nada funcionou, as escolas vieram pra 2024 com elementos cenográficos menores e realmente funcionais – e a Beija-Flor nem com elemento veio, o que é um ótimo sinal.

By Thales Basilio

Thales Basílio é editor e redator, formado em Relações Internacionais e Estudos Estratégicos pela UFF com pesquisa em carnaval carioca. Desde 2022 integra o time da Bicuda.

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