A preparação final das escolas de samba do carnaval carioca começou no último dia 14. Confira agora como passaram as comunidades da Série Ouro nos primeiros 2 fins de semana de ensaios técnicos.

Tripé que veio à frente da Unidos da Ponte em seu ensaio técnico I foto: Rafael Quintanilha

Dia 14/01

Ansiedade. Expectativa. Passada na farmácia para comprar um exército de drogas lícitas. Liga RJ roda e avisa: carnaval taí! No segundo fim de semana do ano começou a temporada de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, o que significa que os desfiles já estão virando a esquina.

Com a pista ainda fria e uma série de problemas a serem resolvidos – falta de frisas, staff que não conseguia tirar dúvidas, o carro de som que custava horrores a ser programado – Lins Imperial, Inocentes de Belford Roxo e Estácio de Sá entraram em campo para inaugurar oficialmente a melhor época do ano.

A Lins Imperial está em lua de mel com a comunidade. Reeditando o histórico enredo de 1990 sobre Madame Satã, os compositores da escola conseguiram tirar da cartola um samba ainda melhor, que virou hit instantâneo no pré-carnaval – só não é mais ouvido que o da Porto da Pedra nas plataformas digitais. Lucas Donato e Rafael Tinguinha, cada vez mais entrosados, tiveram grande atuação e conduziram o fortíssimo canto dos componentes. Com a manutenção do time responsável pelo bom desfile de 2022 a tendência é que a escola dê um salto de qualidade.

Em tempo: a Lins escolheu esquentar com o samba de 1991 em homenagem a Chico Mendes, como é tradição. O frisson que a composição ainda causa é digna de nota.

Inocentes de Belford Roxo, que vem de um dos melhores desfiles do grupo no ano passado, fez um ensaio correto em preparação para o desfile sobre as mulheres de barro. A escola luta para ser levada a sério como candidata ao caneco, e para isso se reforçou – trouxe Thiago Brito de volta, por exemplo. Fica o registro de que, além do tradicional aceno ao prefeito Waguinho, mandatário de Belford Roxo, esse ano o presidente Reginaldo Gomes também mandou um abraço para a primeira-dama, Daniela do Waguinho, ministra do turismo do governo Lula. Em suas palavras: “vão ter que engolir”.

A Estácio de Sá fechou a noite. A escola, que estava no grupo especial em 2020 e fez uma apresentação criticada em 2022 – ocasião em que reeditou samba e enredo de 1995 em homenagem ao centenário do Flamengo -, busca agora voltar para as cabeças. O bom enredo fabulístico sobre a cidade de São Luiz do Maranhão rendeu um samba animado, muito bem defendido por Tiganá, tocado com a qualidade – e velocidade – de sempre pela bateria do mestre Chuvisco. A ver como se sai o Leão do Estácio em 2023.

Dia 21/01

A segunda noite de ensaios técnicos da Série Ouro começou com o já tradicional atraso. Parecia tudo pronto para o Arranco começar os trabalhos, mas nada da festa ter início.

E que felicidade foi ver o Arranco do Engenho de Dentro de volta à Marquês de Sapucaí. Como se não bastasse o retorno da escola, um evento em si, ela ainda traz à reboque Zé Espinguela, um dos maiores responsáveis pelo início do que hoje entendemos ser desfile de escola de samba. O samba escolhido para ilustrar o enredo é uma beleza – dizem as mas línguas que ele só tocou 6 vezes durante a passagem da agremiação -, e a dupla Diego Nicolau e Pamela Falcão o defenderam com muita competência na avenida. Além da parte musical estou particularmente ansioso para ver o trabalho que Toin Gonzaga – que tem feito um trabalho brilhante de divulgação do enredo nas redes sociais – vai desenvolver.

No mais: eu tive uma síncope quando a escola cantou Quem vai querer, samba de 1989, por vários motivos o maior de sua história.

Na sequência Bangu e Ponte – essa escolona, esse evento em forma de agremiação carnavalesca – fizeram ensaios competentes. Tudo bem que a escola da zona oeste quase não entrou por causa dos problemas com o carro de som. Pixulé, que confidenciou mais cedo na Bicuda que estaria “incorporado” na Sapucaí, teve que pelejar para botar ordem no pagode. Pelas bandas de São João de Meriti, destaque para a grande bateria do jovem mestre Branco, além da estreia de Kleber Simpatia no carnaval do Rio.

A noite foi encerrada pela União da Ilha, escola que ainda está mais do que mordida pelo resultado de 2022. Os insulanos vem com tudo para lutar pelo título, e para isso escolheram o único enredo possível: o centenário da “dindinha” Portela. O samba é frágil, é verdade, e a ausência de Ito Melodia ainda incomoda. Mas Igor Vianna deu conta do recado e a escola cantou demais. Com uma bateria redondinha e a continuidade do trabalho de Cahê Rodrigues a tricolor tem tudo para fazer mais um grande desfile.

By Thales Basilio

Thales Basílio é editor e redator, formado em Relações Internacionais e Estudos Estratégicos pela UFF com pesquisa em carnaval carioca. Desde 2022 integra o time da Bicuda.

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