Escola da Baixada Fluminense levou para a avenida uma homenagem ao orixá da comunicação para combater racismo religioso contra cultos de matriz africana. São Clemente é rebaixada e vai fazer parte da Série de Ouro no ano vem
Com enredo “Fala, Majeté! As sete chaves de Exu”, que retratou Exu, entidade de religiões africanas, nesta terça-feira (26) a Acadêmicos da Grande Rio se tornou a campeã do carnaval carioca pela primeira vez na história após conquistar 269.9 pontos na apuração. A ordem dos quesitos na apuração foi a seguinte: fantasias, harmonia, comissão de frente, samba-enredo, bateria, alegorias e adereços, enredo, mestre-sala e porta-bandeira, e evolução. Para comemorar a vitória da escola, a atriz e rainha de bateria, Paolla Oliveira, solicitou uma dispensa de uma gravação que realizava no Projac e foi comemorar o título com sua agremiação. A beldade que deu um show na avenida representando a energia das Pombagiras, a versão feminina de Exu, foi ovacionada na quadra da escola localizada na cidade de Duque de Caxias, e alvo de muitos flashes.
Assim que chegaram, Paolla Oliveira e Diogo Nogueira foram direto para o palco, acompanhados do presidente de honra Jayder Soares e do troféu de campeã do Carnaval 2022. A artista também sambou com a bateria e junto com o Mestre Fafá, que rege os ritmistas da tricolor do município de Duque de Caxias.
Vale lembrar que nos anos de 2020, 2010, 2007 e 2006, a escola bateu na trave e ficou em segundo lugar. Por esse e outros motivos, nas redes sociais, famosos e anônimos expressaram sua felicidade com a vitória da Tricolor de Duque de Caxias.
Mas afinal, quem é Exu?
“Exu não é diabo. A maioria das pessoas não sabe o que realmente é o Exu, não estudou o Exu”, explica o zelador espiritual Danilo de Oxóssi.
“O enredo tem um conjunto de importâncias, e a principal delas é desconstruir os estereótipos negativos que foram atribuídos devido a esse processo de racismo religioso à divindade Exu, que é uma divindade múltipla e viva. Mas foi incorporada por todos na Avenida”
Leonardo Bora, um dos carnavalescos da Grande Rio
“É o orixá, é o guardião, é o primeiro que come na mesa dos orixás. O último é Oxalá, que é o rei de todos os orixás. E Exu come primeiro do que ele.
Danilo de Oxóssi
Demeson D’alvaro, que interpretou Exu no desfile da Grande Rio, escola de samba campeã deste ano no Rio de Janeiro, falou sobre a emoção do primeiro título da agremiação, e ter dado vida ao personagem-título do samba-enredo. O ator, que já foi da comissão de frente do Salgueiro 2011 a 2018, é de Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro, e conta que sua família tem representantes de diversas religiões, incluindo uma avó umbandista e mãe evangélica, mas que não frequenta nenhuma igreja ou outro templo religioso, apesar de crer em Deus. Para quem não sabe, ele já viveu caboclos e pretos velhos na avenida, além de outro Exu, na comissão de frente do Salgueiro, no carnaval de 2016. Para o desfile deste ano, Demerson investiu em alguns detalhes sobre a preparação para o personagem que impactou a Sapucaí. Ele se preparou com uma mãe de santo da família e recebeu do Ifá D’olu patuás vindos especialmente da África. O carioca também contou com a ajuda da esposa Isadora, adepta do candomblé, indicando-lhe leituras sobre a religião.
As escolas Beija Flor de Nilópolis, Unidos do Viradouro, Unidos de Vila Isabel, Portela e Acadêmicos do Salgueiro ficaram em 2º, 3º, 4º, 5º e 6º lugar respectivamente. A São Clemente, que homenageou o humorista Paulo Gustavo, ficou em último lugar e foi rebaixada para a Série Ouro. A agremiação estava no grupo especial desde 2012. Agora, retorna ao grupo de acesso depois de uma década e precisará reorganizar sua estrutura para voltar à elite do Carnaval.
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