A segunda noite da Série Ouro do Carnaval carioca trouxe desfiles marcantes, com Unidos do Porto da Pedra, Acadêmicos de Niterói e Tradição se destacando na Marquês de Sapucaí. A competição, que define apenas uma escola para ascender ao Grupo Especial, teve apresentações empolgantes e cheias de emoção.
Na noite anterior, Estácio de Sá, União de Maricá e União da Ilha do Governador foram apontadas como os destaques.
A noite começou pontualmente às 21h, com a Tradição, que retornava ao Sambódromo após uma década. Com o enredo “Reza”, a escola abordou diferentes manifestações religiosas, mas de forma um tanto genérica. Apesar de carros grandiosos e um samba cantado a plenos pulmões pelos componentes, a azul-e-branco enfrentou problemas com o tempo e precisou acelerar o final do desfile.

A União do Parque Acari veio na sequência e surpreendeu pela beleza plástica e musicalidade. O enredo “Cordas de prata: o retrato musical do povo”, assinado pelo carnavalesco Guilherme Estevão (ex-Mangueira), exaltou a história do violão na cultura brasileira. Com fantasias e alegorias bem acabadas e um samba envolvente de Moacyr Luz, a escola fez um desfile consistente, mas estourou o tempo em um minuto.

Já a Acadêmicos de Vigário Geral optou por um enredo histórico: “Vagalume: o jornalista que iluminou o carnaval”, uma homenagem a Francisco Guimarães, o primeiro cronista do carnaval nos jornais. A tricolor da Zona Norte apostou em um samba acelerado e na boa performance da bateria de mestre Luygui. Apesar de correta e bem executada, a apresentação não deve colocá-la na briga pelo acesso.

A Unidos de Bangu, que desfilou como hors-concours devido ao incêndio que destruiu parte de suas alegorias antes do carnaval, impressionou pela superação. Com o enredo “Maraka’Anandê – Resistência Ancestral”, sobre a luta dos povos indígenas, a escola trouxe um desfile colorido e animado, que poderia muito bem competir de igual para igual com as demais agremiações da Série Ouro.

A partir daí, vieram os desfiles mais aguardados da noite. A Unidos do Porto da Pedra, rebaixada do Grupo Especial no ano passado, entrou na Avenida com um desfile grandioso, mostrando que não pretende ficar na Série Ouro por muito tempo. O enredo “Fordlândia”, do carnavalesco Mauro Quintaes, relembrou a tentativa de Henry Ford de construir uma cidade industrial em plena Amazônia. Com um samba forte na voz marcante de Wantuir e uma bateria pulsante de mestre Pablo, a escola fez um desfile poderoso, finalizando com um carro alegórico impactante, representando as ruínas da fábrica da Ford engolidas pela floresta. A apresentação coloca a Porto da Pedra como favorita ao título, disputando com Estácio de Sá e Maricá, que se destacaram na primeira noite.

A São Clemente, única escola da Zona Sul na Série Ouro, apostou na irreverência com o enredo “A São Clemente dá voz aos que não têm”, uma homenagem à causa animal. Apesar de momentos divertidos e de fofura, o desfile pecou na execução. Alegorias sem acabamento e a falta de um desenvolvimento criativo mais consistente podem comprometer a nota final da escola.

A Acadêmicos de Niterói, antiga Sossego, surpreendeu positivamente com um desfile vibrante e bem coreografado. Com o enredo “Vixe Maria”, a azul-e-branco celebrou as festas juninas em um show de cores e alegria, embalado pelo ritmo contagiante do forró e pela voz do intérprete Nêgo. Foi um desfile bem recebido pelo público e pode render uma boa colocação à escola.

Por fim, o Império Serrano encerrou os desfiles da Série Ouro em grande estilo. Mesmo sem disputar o acesso, a verde-e-branco fez uma apresentação emocionante com o enredo “O que espanta a miséria é festa”, inspirado em uma frase de Beto Sem Braço, compositor homenageado pela escola. Sob um sol forte na manhã de domingo e com o tempo estourado, o Império protagonizou uma catarse coletiva, com lágrimas e sorrisos dos componentes. Muitos tiveram suas fantasias destruídas a menos de um mês do carnaval, mas desfilaram com garra e orgulho.

Impacto do incêndio e a decisão da LigaRJ
O incêndio ocorrido na Maximus Confecções no último dia 12 teve grande impacto nos desfiles da Série Ouro. A tragédia, que destruiu uma das principais fábricas de fantasias e resultou na morte de um aderecista, prejudicou diretamente três escolas: Unidos de Bangu, Império Serrano e Unidos da Ponte.
Diante disso, a LigaRJ optou por deixá-las fora da disputa pelo título, garantindo que não fossem rebaixadas, mas também impedindo que concorressem ao acesso. Para as demais 13 escolas, o regulamento segue inalterado: apenas a campeã sobe para o Grupo Especial, enquanto as duas últimas colocadas serão rebaixadas para a Intendente Magalhães em 2026