Foto: Marcelo Martins/Riotur
Confira como cada escola se apresentou na primeira noite do grupo de acesso à elite do carnaval carioca!
Primeira escola a se apresentar na sexta-feira de carnaval, a Botafogo Samba Clube, estreante no grupo, escolheu o enredo mais óbvio em sua chegada à Marquês de Sapucaí: o próprio Botafogo. A escola partiu da criação do bairro homônimo para desaguar nos recentes títulos conquistados pelo clube, passando por outros momentos importantes de sua história e jogadores ilustres. Se no pré-carnaval – especialmente após um forte ensaio técnico – a escola prometia uma apresentação segura, o resultado final foi oposto. A comissão de frente botafoguense tinha uma coreografia lenta e que não contava nada, as alegorias tinham uma concepção franciscana, o enredo foi desenvolvido de forma embolada e tanto harmonia como evolução foram problemáticas. Além de tudo, a escola ainda passou com o primeiro carro desacoplado, o que certamente renderá penalidades. De positivo, somente a segura apresentação do primeiro casal, Beatriz Paula e Diego Moreira – impecavelmente vestidos. Botafogo é favorita ao descenço.
A segunda escola a se apresentar foi o Arranco. Se, por um lado, a carnavalesca Annik Salmon conseguiu construir um desfile tocante, com diversas imagens comoventes, por outro a escola pecou em vários quesitos. O enredo sobre as mães e as religiosidades maternas gerou um samba aclamado pela crítica, mas que não foi cantado pela comunidade. A comissão de frente teve diversos problemas, especialmente quando as personagens ocultas surgiam, e a apresentação do primeiro casal foi frágil. Junte-se a isso um conjunto alegórico com pouco refino estético e uma evolução que não foi perfeita. Eu gostaria muito de dizer que o Arranco fez uma grande apresentação, mas, colocando na ponta do papel, o desfile foi conturbado.
A Inocentes de Belford Roxo, terceira escola a colocar seu carnaval na avenida, era mais uma que prometia um desfile seguro. O caldo, porém, começou a entornar já no esquenta – quando os inocentes puxaram Mangueira teu cenário é uma beleza, deixando toda a Sapucaí confusa. O grande samba da escola, que rendeu o campeonato do antigo grupo B em 2008, foi mais cantado pelos entusiastas do carnaval que pelos componentes, e o enredo sobre as ervas curativas não teve o melhor desenvolvimento. Além disso, o tripé da comissão de frente quebrou e acabou tendo sua entrada suspensa, comprometendo o próprio quesito e o quesito enredo, e o tempo de desfile foi estourado em um minuto. Se os jurados forem rígidos, a Inocentes pode se complicar.
Quarta escola a se apresentar, a Unidos da Ponte levou o enredo Antropoceno para a Sapucaí – e por duas vezes eu fui perguntado na arquibancada sobre o que o tema tratava. Ao longo da noite, com um discurso da diretoria antes do desfile e o desfile em si, a intenção da escola ficou clara. Fora da disputa por conta do incêndio que destruiu parte de suas fantasias, a Ponte entrou leve na avenida, sem se preocupar com detalhes como acoplamento de alegorias e preenchimento de queijos. A comissão de frente meritiense, que vinha vestida de indígenas que precisam usar uma máscara de oxigênio para sobreviver, foi um dos destaques da noite. O grupo não usava nenhum tripé – era só coreografia. Também vale mencionar a ótima apresentação do primeiro casal da escola, Emanuel Lima e Thainara Matias.
A Estácio de Sá se apresentou na sequência e elevou o sarrafo da noite. O Berço do Samba apresentou um enredo lúdico, que mostrava o leão, símbolo da escola, viajando pela amazônia e encontrando os seres encantados que habitam a floresta. A escola apresentou as suas credenciais logo nos primeiros momentos: mestre Chuvisco, Tiganá e Serginho do Porto imprimiram muita pressão na parte musical. A bateria estaciana viveu noite de gala, e os intérpretes fizeram uma excelente apresentação. A comissão de frente da escola deixou o público embasbacado com a presença de um leão – teve gente que achou cringe, mas a realidade é que quem estava na Sapucaí vibrou com a solução simples e impactante. Destaque também para o trabalho do carnavalesco Marcus Paulo, que entregou um desfile esteticamente de alto nível. De negativo, pode-se apontar o desenvolvimento de enredo um pouco confuso e uma harmonia que não acompanhou o alto nível da apresentação. Com tudo isso, porém, não há como não apontar: Estácio é favorita ao acesso.
A União de Maricá, tida no pré-carnaval como favorita ao caneco, foi a sexta escola da noite. O desfile dividiu opiniões: há quem diga que a escola foi tudo isso e mais um pouco, há quem julgue que faltou “alma” na apresentação – que foi bonita plasticamente, mas fria. Eu faço parte do primeiro grupo. Além de um desenvolvimento de enredo irrepreensível por parte de Leandro Vieira, que entregou um desfile visualmente impactante, plasticamente perfeito e de fácil leitura, a comunidade cantou forte o bom samba sobre seu Sete da Lira. A escola pode ter pecado, talvez, em uma evolução muito acelerada, especialmente no início da apresentação. Julgadores mais criteriosos também podem tirar décimos em casal e comissão de frente – que tinha um belíssimo tripé que, embora apresentasse a impactante escultura de uma rezadeira que benzia a Sapucaí com ervas, não entregava tanto para a coreografia do grupo. Com pequenos senões, a escola é candidatíssima ao caneco.
Após dois rolos compressores, a Em Cima da Hora tinha a difícil missão de manter o alto nível da noite. E, em um primeiro momento, conseguiu: a bateria de mestre Léo Capoeira veio logo no início do desfile, antes do abre-alas, e levantou o público por onde passou com uma grande apresentação. Destaque para as cordas, reforçadas por um violino – afinal, o enredo da escola era A ópera dos terreiros. O primeiro carro da ECDH era enorme e muito bem trabalhado, e a apresentação do primeiro casal, Marlon Flores e Winnie Lopes, foi excelente. Ao longo do desfile, porém, o nível foi caindo. A harmonia não sustentou o bom início, a evolução foi confusa e as demais alegorias não seguiam a qualidade do abre-alas. Para completar, a escola teve sérios problemas para encerrar o seu desfile, com carros embolados na dispersão e dois minutos de estouro do tempo. A escola fez desfile para pegar, talvez, um 6° ou 7° lugar, mas com os problemas pode acabar se complicando.
A União da Ilha fechou a noite com o dia já claro, o que combinou com o samba insulano – que dizia: Hoje o sol nasceu mais cedo pra te ver. Após um ensaio técnico envolvente e uma bateria muito comentada no pré-carnaval, com direito à coreografia da rainha viralizando nas redes sociais, a escola prometia um desfile para brigar nas cabeças. Mas não foi isso que se viu. A bateria do mestre Marcelo fez uma excelente apresentação, mas não sustentou o canto dos componentes; a escola foi uma das mais frias da noite. A comissão de frente carregava um tripé enorme, daqueles que se vê no grupo especial, totalmente dispensável – o que pode custar pontos. O conjunto de fantasias insulano era rico e bem trabalhado, mas as alegorias não mantiveram o mesmo nível – o abre-alas, inclusive, passou com o queijo principal torto e teve que ser acompanhado de perto pela brigada de segurança da Sapucaí. Por conta desses problemas, é difícil imaginar a Ilha disputando o sonhado retorno ao grupo especial.
Por fim, um acontecimento triste. Logo no início da apresentação da Ilha, um balão caiu em um dos setores do lado ímpar da Sapucaí, o que mobilizou boa parte da brigada de segurança do Sambódromo. As informações dão conta de que nada de pior aconteceu, mas foram momentos de apreensão.
Amanhã, comentários sobre a segunda noite e as expectativas para a apuração!